A aldeia do Sanguinho foi construída e habitada em permanência durante mais de 100 anos, sensivelmente entre meados do século XIX e meados do século XX, até que na década de 1970 foi rapidamente ficando desabitada. O local, no entanto, sempre fora aproveitado para agricultura.
A localização do Sanguinho oferecia a vantagem de um acesso mais fácil a alguns dos terrenos agrícolas de maior valor do Faial da Terra, freguesia de onde emana e para onde escoava toda a sua produção. A fertilidade dos seus terrenos vulcânicos, aliada à presença de água fácil e proteção dos efeitos do mar das inundações da ribeira da Faial da Terra, tornou todos os seus moradores relativamente abastados para a época.
A aldeia do Sanguinho chegou a ter cerca 20 casas habitadas, cada uma com os respetivos currais de porcos, havendo ainda quatro arribanas e pelo menos um palheiro que resistiu até aos nossos dias. Estima-se que a sua população residente, tendo em conta as médias da altura, terá rondado pouco mais de 100 pessoas. Apesar de não ter tido um lugar de oração teve um Triatlo, que, entretanto, foi demolido, mas que deu ao lugar uma presença religiosa.
A dificuldade acrescida das crianças poderem ter acesso à escola quando o ensino começou a ser obrigatório, principalmente a partir de 1964, terá constituído uma dificuldade de peso para os seus habitantes e eventualmente contribuído para a forte adesão à emigração que se registou nessa década.
No espaço de apenas 10 anos, entre 1960 e 1970, a população do Faial da Terra reduziu mais de 40%, passando de 1 585 habitantes para 940, numa tendência que se manteve nos anos seguintes. Em 1990, a população do Faial da Terra era já apenas 464 habitantes, o que representava uma redução de 70% em relação a 1960.
A adesão do Faial da Terra à emigração foi tão radical que representa a freguesia com maior peso da emigração de toda a ilha de S. Miguel, e um dos maiores do arquipélago. O efeito no Sanguinho foi total. Na década de 1980 apenas residia uma idosa, que se recusou sempre a sair de lá.
A BBC, num documentário realizado em 2001, apelidou a aldeia do Sanguinho de "The Lost Village" – "A aldeia perdida", realçando a beleza do local e das ruínas abandonadas. Mas, entretanto já havia um grupo de pessoas prósperos de São Miguel em conjunto com a "Terramar - Associação para o Desenvolvimento Local nos Açores", constituída principalmente por jovens empreendedores de Ponta Delgada ligados à cultura e ao ambiente, interessadas em recuperar o que fosse possível do pequeno lugar. Para os fins fundaram a empresa "Sanguinho, Turismo de Natureza nos Açores, LDA".
No início dos anos 2000 diversas casas foram adquiridas pela empresa, beneficiando do facto de alguns dos proprietários ainda se encontrarem vivos a residir na diáspora. A recuperação foi, no entanto, bastante lenta, até que a associação "Terra Mar" se desfez e a empresa foi adquirido por uma emigrante alemã, interessada na cultura, sociedade e historia do país que está a hospedá-la, para gerir o projeto de revitalização do espaço.
Foi a partir daí que se encetou a recuperação do aglomerado urbano que hoje pode ser visto, envolvido num projeto de agricultura biológica, um dos primeiros a arrancar oficialmente nos Açores e ainda hoje em funcionamento. O resultado é uma oferta de turismo de natureza absolutamente ímpar na ilha de S. Miguel.
Durante vários anos a aldeia foi decaindo. A força da natureza, e muito mais naquele local, é imparável. As plantas forçam o crescimento do chão por entre as pedras de basalto, os telhados são fustigados por ventos e água que, não cuidados, tornam o desabamento uma questão de tempo. Todas as casas do Sanguinho estavam em situação de ruína quando se iniciou o processo de recuperação.